O AMOR E A POESIA ABSOLUTA:
O SOPRO DIVINO QUE REDIME A ALMA
Tony Antunes
Pessoal, na moral! Estava eu a pensar, lendo Ferreira Gullar, “cá com meus botões”, a seguinte reflexão: “Há um ponto no tempo em que o silêncio se curva diante da palavra, e é ali que nasce a poesia — não como arte somente, mas como necessidade vital. O amor, por sua vez, não é senão o incêndio sagrado que acende essa linguagem.” Quando os olhos do espírito se abrem para ver o mundo com o coração, cada gesto vira verso e cada toque é um sussurro de eternidade. A poesia, nessa perspectiva, não descreve o amor: ela o encarna.
A literariedade é a alforria da linguagem da poética de cada um de nós que nos afoitamos a poetar, literar. Ela toma o cotidiano pelo braço e o leva a dançar sob a luz da transcendência. Quando dizemos que “teu sorriso é um pôr do sol que esqueceu de partir”, não estamos mentindo — estamos dizendo a verdade mais profunda, que só a alma entende. Porque a alma não se alimenta de fatos, mas de símbolos. O poeta, então, é aquele que decifra esse universo simbólico onde o amor é verbo que se faz carne e habita entre nós.
Jesus, o maior dos poetas da existência, dizia: “A boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45). E que outra forma mais plena de falar do coração do que a poesia? Suas parábolas, metáforas vivas, são tecidos de fé e compaixão, sementes de amor que só germinam em solos poéticos. Ele não veio ensinar a lógica — veio ensinar o amor, e o fez poeticamente, com gestos e palavras que até hoje nos arrebatam.
Fernando Pessoa, que foi muitos em um só ser, escreveu: “O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, porque já não posso andar só.” Ele entendia o amor como essa duplicação da alma, um espelho que não apenas reflete, mas revela. Amar é ser outro sem deixar de ser a si mesmo, é estar multiplicado em um só corpo e dividido em todas as ausências.
Nietzsche, filósofo com alma de poeta, clamava: “Temos a arte para não morrer da verdade.” E que verdade é mais insuportável do que a da morte, do vazio, da solidão crua da existência? A poesia — sobretudo a Poesia Absoluta — é o antídoto contra o absurdo. Ela não explica, mas sugere consolo. Não responde, mas acende perguntas eternas em nossas entranhas.
O persa Jalaladim Rumi, Poeta e místico, que dançava com o invisível, escreveu: “Você nasceu com asas, por que insiste em rastejar?” O amor e a poesia são essas asas. Ambos não são fuga do real, mas voo sobre ele. São o modo mais humanamente sagrado de se viver — e por isso, mais divino — de habitar o mundo. Pela poesia, até o sofrimento vira flor, e a saudade se torna presença invertida.
Ferreira Gullar, com sua coragem metafísica, exclamou com uma lucidez cortante: “A arte existe porque a vida não basta!” Mas talvez fosse mais justo dizer: “A poesia existe porque amar exige mais que o mundo pode oferecer.” A vida comum é insuficiente para conter o transbordamento dos que amam demais, dos que veem em cada esquina uma epifania, dos que, ao escreverem um verso, estão, na verdade, orando com a alma escancarada.
Isso é pura mágica, manifestação da fé, neste contexto, não é dogma, mas pulsação. É acreditar que, apesar da dor, vale a pena sentir. É confiar que o amor, mesmo fragmentado, ainda é inteiro no poema. E que cada palavra, quando vestida de metáfora, é capaz de ressuscitar corações que jaziam em silêncio.
Portanto, que se viva poeticamente. Que cada gesto seja um verso, cada lágrima uma estrofe, cada abraço uma rima. Porque apenas viver, é pouco. É preciso amar com palavras e com o corpo, com a fé de quem sabe que o amor é o único verbo digno de conjugar-se eternamente. Como disse Jesus, como sussurrou Pessoa, como gritou Gullar — Só pela poesia é que se pode suportar a vastidão da própria existência!
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirPerfeito
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