quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Crônica - “PALMARES, MEU ACALANTO DE PROSA E POESIA” (Tony Antunes)

“PALMARES, MEU ACALANTO 

DE PROSA E POESIA”

Tony Antunes


Não nasci aqui — confesso. Mas há cidades que nos escolhem antes mesmo que a gente as conheça, e Palmares me escolheu assim, num sopro de destino e brisa. Um dia cheguei, distraído de mim, e o Rio Una sussurrou boas-vindas em suas águas de prata, enquanto o Pirangi, com sua calma mística, me olhou como quem reconhece um filho que volta, e não um forasteiro que chega. Desde então, deixei de ser estrangeiro. Tornei-me palmarino por adoção, filho de um ventre de verde e memória.

Palmares é a Terra dos Poetas, mas ouso dizer que aqui até as pedras rimam, e o vento dizem versos pelas ladeiras. Há um encanto solar que acorda a cidade todas as manhãs — o sol, esse antigo filósofo dourado, vem ensinar que viver é um ato de brilho; e à noite, a lua, doce escriba das sombras, escreve nas águas dos rios os segredos que o dia não quis contar.

Quando caminho pelas ruas desta cidade, sinto que piso em páginas. Cada esquina é uma metáfora viva, cada fachada guarda um poema que o tempo deixou autografado. O Teatro Cinema Apolo, de 1914, é o coração pulsante dessa epopeia — o mais antigo do interior pernambucano, mas ainda jovial em alma. Suas cortinas, vermelhas de palco e sonho, abrem-se como se revelassem o espírito da cidade: dramático, lírico, resistente. É ali que o silêncio se faz palavra e o aplauso se torna prece.

E como não falar da Biblioteca Pública Municipal Fenelon Barreto, esse santuário do verbo e da lembrança? Fenelon, poeta que habita em cada prateleira invisível do lugar. Lá dentro, os livros respiram filosofia e exalam amor, como se o próprio ar fosse feito de sílabas em estado de encantamento. Às vezes sento-me num canto, e juro ouvir um murmúrio antigo — talvez os ecos do velho Clube Literário, ou as conversas de quem acreditava, com fé quase divina, que a palavra pode salvar o mundo.

A Academia Palmarense de Letras renascida em esplendor, nela vejo o símbolo do que Palmares é: uma fênix de letras, ressurgindo das cinzas do esquecimento para iluminar o presente com o fogo da Arte. Ali, onde a prosa encontra o verso, onde a razão beija a emoção, a cidade se reencontra consigo mesma — e comigo também.

Sim, não nasci aqui. Mas quem disse que se precisa nascer aqui para amar esta cidade? Palmares é o meu acalanto de sol e lua, o meu templo de poesia e filosofia, o meu abrigo místico de amor e palavra. Sou um palmarino de coração, batizado nas águas do Una e do Pirangi, e eternamente grato por esta cidade ter me ensinado a lição mais bela: que o verdadeiro lugar de nascimento é aquele onde a alma encontra seu encanto de viver e de amar. Muito obrigado, minha linda Palmares!


Palmares, 22 de outubro de 2025


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2 comentários:

  1. Que lindo, Tony! Você pode se sentir um filho de Palmares e daqueles que a dignificam. Por ser a Terra dos Poetas, não poderia não reconhecê-lo. Iolita

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