segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

POEMA DE UM MORTINHO DA SILVA (Tony Antunes)

PARA A MORTE, ESTA 
COMPANHEIRA INSEPARÁVEL DA VIDA!


POEMA DE UM MORTINHO DA SILVA
Tony Antunes

Este corpo espichado, encolhido e flácido de
tão rígido
é meu, não é teu, nem dele e nem dela.
Sou eu.

Minha vida foi suave em agitos de procela
embriagada de acres licores, líquidos efêmeros
azedos, doces de dores gentílicas e cruéis.

Em derredor deste cadáver os zum-zum-zuns
ritmados das moscas a me renderem uma                                                    [última homenagem
é o que resta a este lindo corpo inerte, morto.

Em cada flor quinze pétalas de lembranças
Ares eloquentes de absinto e putaria!

As lágrimas chegadas na hora derradeira
embalam uma alma, um corpo para sua 
                                        [última alcova.

Olhares mórbidos, mornos e marejados
observam este corpo – Eu.

Dissecam sua história e seu estado
morto, mortinho da silva.

Comentam sua vida, em vida
um pai, um poeta um professor
pedreiro, pintor porteiro ou eletricista? 
Sabe-se lá...
Não importa, pois o que interessa é que
este corpo (meu Eu) está – morto!

Meu corpo, ao morrer, agora tem outro nome - 
De-fun-tooooo!
De-é-dé fun-fun-to-ô-toooo!
Ah, faltou o: 
- Deefuntoooo Mortinhooo da Silvaaa!

Vamos lá, enterrem-me logo, cubram-me
com uma colcha de retalhos marrom-areia
que ela esteja aquecida na temperatura certa
que esteja na consistência adequada!

Acendam-me uma vela, deixem-me flores!
Digam-me, algumas últimas palavras:
Até breve, depois eu chego lá!

Palmares, 29/11/2018