VOCÊ SABE O QUE É HIPÁLAGE?
ANTUNES, Gleidistone.
A hipálage é uma figura de linguagem (ou figura de sintaxe) que consiste no deslocamento de um adjetivo (ou epíteto) de um termo para outro da mesma frase ao qual ele não pertence semanticamente, mas com o qual se relaciona por proximidade.
Por regra, a hipálage atribui uma qualidade ou estado que seria próprio de um ser animado (pessoa ou animal) a um objeto ou coisa inanimada. Diferentemente da metáfora que faz uma comparação indireta.
Exemplos de Hipálage:
“As unhas nervosas de Luísa batiam na mesa.” - Na verdade, Luísa é que estava nervosa, não suas unhas. O adjetivo “nervosas” foi transferido da pessoa para a parte do corpo.
"Fumava o meu cigarro pensativo." - A pessoa que fuma é que está pensativa, não o cigarro.
“Através dos vidros, as coisas fugiam para trás” (Sophia de Mello Breyner Andresen) - As coisas (objetos/paisagem) não fogem, mas sim a pessoa que as observa de dentro de um veículo em movimento.
HIPÁLAGE NA LITERATURA
O uso da hipálage é comum na literatura portuguesa, sendo frequentemente empregada por escritores como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco e Cesário Verde para criar um efeito estilístico particular.
"[…]
Sim! Porque não podia abandoná-la em paz!
Ó minha pobre bolsa, amortalhou-se a ideia
De vê-la aproximar, sentado na plateia,
De tê-la num binóculo mordaz!”
Cesário Verde
In.: https://www.tudoepoema.com.br/cesario-verde-humilhacoes/?print=print
“[…] por entre os nevoeiros moles, ele ia pelos montes, pelas colinas, pelos pinheirais, rachar, cortar e desramar, aos ásperos ventos, na grande neve silenciosa.”
QUEIROZ, Eça de. Prosas Bárbaras. Chadron, 1903.
A hipálage é, portanto, um recurso que mistura características sintáticas e semânticas, criando um efeito de estranhamento ou sugestão poética na descrição.
Abaixo, segue um setígono que nos apresenta o fenômeno da hipálage em seus versos:
HIPÁLAGE DO VERSO
Tony Antunes
Ruas embriagadas, tortas e tontas,
No lapso dos desassossegos e agonias,
Homens cambaleiam na corda bamba das guias,
Escarram suas lágrimas de solidão e dor,
Suspiram o pó da terra na poeira do destino,
Em desordem de amor e de ódio,
Cospem a dignidade etilizada de magoas!



