PSICOGRAFIA
DO FIM (Crônica)
Tony
Antunes
Nestes dias (in)finitos da minha
vida, sinto o peso dos meus cabelos brancos, a angústia mórbida das
rugas que mudam a minha feição. Percebo olhares frígidos, relampeados em
faces alheias, observando a ferrugem oxigenal que me consome a claridade da
pele.
Brinco com a rigidez, quase
cadavérica, que me impede de correr ou andar com destreza: - Agora,
ando devagar!
Divagando no que sou, encaro
o resultado do que já fui.
Olho para as minhas mãos,
encaliçadas pelo tempo de muitas histórias de lutas na fome, no
frio e na dor de dias solitários.
Calçadas ermas, noites
sombrias, tardes áridas e ruas dantescas - eclipse de uma vida?
A grave gravidade pesa, mas
não pondera. Impõe, mas não pergunta. É grotesca como um bárbaro sem
piedade. É sol escaldante que racha a pele, croca os ossos, trava os
nervos e neva os olhos em cegueira catarática.
O fim do corpo é um
carrasco a cumprir a sua sina, sempre perpétua em direção ao pó, à
renovação(!?), ao cadinho de uma sepultura quente, aconchegante -
sagrado portal para a eternidade cósmica da reluz-ente vida, do amor
e da paz eterna!?