domingo, 12 de fevereiro de 2017

PSICOGRAFIA DO FIM (Crônica) Tony Antunes




PSICOGRAFIA DO FIM (Crônica)
Tony Antunes

Nestes dias (in)finitos da minha vida, sinto o peso dos meus cabelos brancos, a angústia mórbida das rugas que mudam a minha feição. Percebo olhares frígidos, relampeados em faces alheias, observando a ferrugem oxigenal que me consome a claridade da pele.

Brinco com a rigidez, quase cadavérica, que me impede de correr ou andar com destreza: - Agora, ando devagar!

Divagando no que sou, encaro o resultado do que já fui.

Olho para as minhas mãos, encaliçadas pelo tempo de muitas histórias de lutas na fome, no frio e na dor de dias solitários.

Calçadas ermas, noites sombrias, tardes áridas e ruas dantescas - eclipse de uma vida?

A grave gravidade pesa, mas não pondera. Impõe, mas não pergunta. É grotesca como um bárbaro sem piedade. É sol escaldante que racha a pele, croca os ossos, trava os nervos e neva os olhos em cegueira catarática.

O fim do corpo é um carrasco a cumprir a sua sina, sempre perpétua em direção ao pó, à renovação(!?), ao cadinho de uma sepultura quente, aconchegante - sagrado portal para a eternidade cósmica da reluz-ente vida, do amor e da paz eterna!?

Palmares, 12/02/2017



12 comentários:

  1. Muito obrigado por seu comentário,meu querido e amado amigo!

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  2. Você descreveu tão bem o sentimento da velhice, que me deixou pensativo e com medo de quando chegar a minha vez.
    Um bom escritor é assim, capta sentimentos em quem o lê,ao ponto da refletirmos sobre a vida.
    Parabéns,meu amigo!

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    1. Meu querido e amado amigo, muitíssimo obrigado por seu comentário. Você, mais do que ninguém, sabe da nossa responsabilidade e função enquanto escritor - fazer as pessoas refletirem acerca da temáticas tratadas em nossas obras.

      Se puder, e quiser, pode trabalhar este texto com seus alunos em sala de aula!

      Paz e Bem para você!

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  3. Gosto da forma como os Poetas nos revelam a vida e a morte...Até consegui sentir o aconchego dessa sepultura quentinha, kk..

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    1. Quero te agradecer pelo comentário tão metafóricamente lindo.

      Se quiser, pode seguir-me e compartilhar com teus amigos. Fique a vontade!

      Paz e bem para ti! E que teus sonhos ganhem vida, concretizada em realizações pessoais!

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  4. Mesmo os materialistas, são forçados a aceitar que a morte não existe...Existe apenas a mudança.

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  5. A alma sempre em uma visão imortal, no paradoxo do ainda corpo fardado a sua velhice e que nada é para sempre. Como o eu almeja pela sua morte, mesmo ainda, não acontecendo. Por isso, há as tenras exposições da matéria física alegando sua passagem que é finita.

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  6. Belo texto, cheio de comparações com palavras que nos instiga à reflexão. Parabéns

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  7. "Não tenho medo, tanto que diviso! E até encaro como valor e riso" fragmento do poema, Resto de Caminhos" Arthur Griz. Não percebi à primeira vista, mas no primeiro pulo pude ver a metamorfose debulhando as últimas horas de um recomeço inevitável fim ou fins.

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