No lóbulo das pedras, a brisa confessa sua solidão. O vento empurra a jangada humilde a deslizar sobre as águas de um mar solteiro. No vazio existencial de si mesmo, fatidicamente, o farol inquieta-se. Nele, as sombras das noites desassombram-se e se desfazem para o surgimento da próclise em esperanças onde as dúvidas são sanadas:
– Encontraremos, enfim, o nosso porto seguro?
Essa conjectura fere e fura o âmago das insistentes incertezas que persistem em nos atormentar.
O farol é o guia a nos levar sobre as águas tortuosas das dúvidas. Dúvidas de se, de fato, haverá o encontro encantado dos abraços, dos beijos e a visão doce das lágrimas em sal a escorrerem na face da felicidade.
O faroleiro é a alma que anima o corpo desse vigilante inabalável, que não treme ante as pancadas das tempestades que, com suas mágoas a minguarem as migalhas da vida, pranteiam a arrebentarem ondas nos arrecifes da realidade atroz e má-drástica!
Com uma fantástica visão farolítica, ora calma, ora intensamente caótica, cumprem sua flúvica missão de guiar, mesmo na gosma de um tempo dantesco que sacode almas, quebra seguranças e afoitezas.
Eles humildam os arrogantes, a dizer-lhes que o silêncio é mais eloquente que os discursos das marés altas, ou mesmo na baixa dos mares.
A solidão do farol e do faroleiro é divina, pois nos mostra uma útil estratégia da salvação dos barcos à deriva da vida.
Palmares, 28 de janeiro de 2024
Respeitem-se os direitos autorais - Lei N° 9610, 19 de fevereiro de 1998