No lóbulo das pedras, a brisa confessa sua solidão. O vento empurra a jangada humilde a deslizar sobre as águas de um mar solteiro. No vazio existencial de si mesmo, fatidicamente, o farol inquieta-se. Nele, as sombras das noites desassombram-se e se desfazem para o surgimento da próclise em esperanças onde as dúvidas são sanadas:
– Encontraremos, enfim, o nosso porto seguro?
Essa conjectura fere e fura o âmago das insistentes incertezas que persistem em nos atormentar.
O farol é o guia a nos levar sobre as águas tortuosas das dúvidas. Dúvidas de se, de fato, haverá o encontro encantado dos abraços, dos beijos e a visão doce das lágrimas em sal a escorrerem na face da felicidade.
O faroleiro é a alma que anima o corpo desse vigilante inabalável, que não treme ante as pancadas das tempestades que, com suas mágoas a minguarem as migalhas da vida, pranteiam a arrebentarem ondas nos arrecifes da realidade atroz e má-drástica!
Com uma fantástica visão farolítica, ora calma, ora intensamente caótica, cumprem sua flúvica missão de guiar, mesmo na gosma de um tempo dantesco que sacode almas, quebra seguranças e afoitezas.
Eles humildam os arrogantes, a dizer-lhes que o silêncio é mais eloquente que os discursos das marés altas, ou mesmo na baixa dos mares.
A solidão do farol e do faroleiro é divina, pois nos mostra uma útil estratégia da salvação dos barcos à deriva da vida.
Palmares, 28 de janeiro de 2024
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Excelente texto! A cada publicação Tony Antunes caracteriza-se como o Rei das metáforas e neologismos. Provoca, em sua própria linguagem, um verdadeiro e profundo turbilhão de sentimentos conectados às necessidades reflexivas de auto compreensão. Parabéns!!! 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirMinha querida amiga e leitora, Fá de Holanda, muitíssimo obrigado por suas enfáticas palavras. São elas que, nesta perspectiva, me animam a continuar nessa solitária vida de escritor-poeta-prosador!
ExcluirDeus a abençoe sempre!
Grande abraço fraterno!!!
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