À CAMINHO DA ESCOLA
Tony Antunes
Acordo meio aturdido pelo espanto gritante do celular. São seis horas da manhã. Num salto, roboticamente, sigo direto para o banheiro. O calção me cai pelas pernas como se já sabendo da minha rotina. Um bom e delicioso banho de chuveiro bem gelado, gelado para o despertar deste corpo ainda meio que sonolento. Ele dá pulos ante o gelado da água a escorregar pelas dobras sexes de cada dobrinha saliente em mim, que se molda pelas circunstâncias da falta de exercícios físicos.
O café da manhã abandonara-me há tempos, aliás, já não há mais tempo para isso. No máximo uma xícara de chá, e olhe lá! A falta desse tempo se dá pela minha lentidão. Sou lento mesmo no dia a dia vespertino da minha vida. Mas ainda assim assim não desisto. Sigo esbagaçado e não entrego os pontos.
Dirijo-me ao pátio da Sulanca para pegar o arrego do transporte escolar. Vejo degoladas almas zumbíticas que se dirigem bestialmente, zonzatontas aos assentos tantos empoeirados dos ônibus sucateados. O barulho ensurdecedor do motor soma-se aos gritos de alguns despertos, mas não espertos, ditos alunos. A cara de alguns com os olhos ainda remelados pelas noites mal dormidas, pouco aproveitadas, por terem se entregado às bestialidades imbecilizantes dos Tik-toks, Kwais, Instagrans e certos grupos de Whatsapps. O desperdício de tempo a embriagar-se de besteiróis é o termo vigente de uma vazia juventude que se emburrece a cada navegação nas ondas da Net.
O ônibus se põe em movimento. As conversas recheadas de pornofonias são as marcas dos vocabulários afins, a fim de libertinagens adolescentes regadas pelos arreganhamentos de bundas e pernas ao som das ditas “artistas contemporâneas” - Anita, Pablo Vittar e Ludimila. A baixaria rola solta. As desconexões de concordâncias nominais e verbais nos saltam aos ouvidos num trágico prenúncio de um futuro conversacional pobre, perdido e repugnante.
Chegamos à escola. Pela porta do ônibus, escorrem um a um os ditos alunos a cotovelarem-se numa cena digna em que as porteiras de um curral se abrem para receberem uma manada. À porta da escola, uma professora com os sorrisos de orelha a orelha, cheio de motivação a gritar palavras de carinho, amor e acolhimento:
— Boooommmm diaaaaa, povo lindo do senhorrrrr! Sejam bem-vindos a nossa escolaaaaa!
E eu… bom...! De minha parte enfrentarei mais um dia na tentativa de dar aos jovens ditos cujos o que de mais valioso se pode oferecer nos dias de hoje: consciência, conhecimento útil e dignidade humana. Afinal, sou um professor, né? Não desisto nunca!
Palmares, 7 de fevereiro de 2024
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