PARA A MORTE, ESTA
COMPANHEIRA INSEPARÁVEL DA VIDA!
COMPANHEIRA INSEPARÁVEL DA VIDA!
POEMA
DE UM MORTINHO DA SILVA
Tony
Antunes
Este
corpo espichado, encolhido e flácido de
tão rígido
tão rígido
é
meu, não é teu, nem dele e nem dela.
— Sou
eu.
Minha
vida foi suave em agitos de procela
embriagada
de acres licores, líquidos efêmeros
azedos,
doces de dores gentílicas e cruéis.
Em
derredor deste cadáver os zum-zum-zuns
ritmados
das moscas a me renderem uma [última homenagem
é
o que resta a este lindo corpo inerte, morto.
Em
cada flor quinze pétalas de lembranças
— Ares
eloquentes de absinto e putaria!
As
lágrimas chegadas na hora derradeira
embalam
uma alma, um corpo para sua
[última
alcova.
Olhares
mórbidos, mornos e marejados
observam
este corpo – Eu.
Dissecam
sua história e seu estado
morto,
mortinho da silva.
Comentam
sua vida, em vida
um
pai, um poeta um professor
pedreiro,
pintor porteiro ou eletricista?
Sabe-se lá...
Sabe-se lá...
Não
importa, pois o que interessa é que
este
corpo (meu Eu) está – morto!
Meu
corpo, ao morrer, agora tem outro nome -
De-fun-tooooo!
De-é-dé
fun-fun-to-ô-toooo!
Ah,
faltou o:
- Deefuntoooo Mortinhooo da Silvaaa!
- Deefuntoooo Mortinhooo da Silvaaa!
Vamos
lá, enterrem-me logo, cubram-me
com
uma colcha de retalhos marrom-areia
que
ela esteja aquecida na temperatura certa
que
esteja na consistência adequada!
Acendam-me
uma vela, deixem-me flores!
Digam-me,
algumas últimas palavras:
— Até
breve, depois eu chego lá!
Palmares,
29/11/2018